Mercado de Recrutamento para Funções Financeiras em Portugal: Análise Estratégica 2023-2030

Publicado pela Fed Finance em Conselhos de emprego
16/06/2025
Mercado de Recrutamento para Funções Financeiras em Portugal: Análise Estratégica 2023-2030

Portugal enfrenta uma escassez crítica de talento financeiro, ocupando o 3º lugar mundial com 84% das empresas a reportar dificuldades de recrutamento. A inteligência artificial criará 400.700 novos empregos até 2030, mas eliminará 481.000 postos. Os salários de Diretores Financeiros variam entre 40.000€-120.000€ anuais. O setor exige requalificação urgente em competências digitais e análise preditiva para 2025-2030.

Portugal posiciona-se como o terceiro país do mundo com maior escassez de talento, registando 84% de dificuldades de recrutamento, superando a média global de 74% [1]. Este cenário particularmente desafiante afeta significativamente o setor financeiro, onde a procura por profissionais especializados excede largamente a oferta disponível [2]. A transformação digital acelerada pela inteligência artificial está a redefinir o panorama profissional, criando novas oportunidades enquanto automatiza funções tradicionais [3].

An aerial view of the modern Parque das Nações business district in Lisbon, Portugal An aerial view of the modern Parque das Nações business district in Lisbon, Portugal thenomadvisor

Tendências Atuais no Recrutamento para Funções Financeiras (2023-2025)

O período 2023-2025 marca uma fase de transição crucial para o mercado de recrutamento financeiro português. As tendências emergentes refletem tanto as necessidades imediatas das organizações como as transformações estruturais em curso, definindo novos padrões de procura e evolução salarial.

Funções Mais Procuradas e Remunerações

O mercado financeiro português demonstra uma procura robusta por perfis especializados, com destaque para funções de Controller, Auditor, Contabilista Certificado e Diretor Financeiro [2]. A análise salarial revela amplitudes consideráveis entre posições hierárquicas distintas [4]. Os Diretores Financeiros lideram a tabela remuneratória com salários que oscilam entre 40.000€ e 120.000€ anuais, enquanto os Controllers Financeiros auferem entre 40.000€ e 90.000€ [2][4].


Salários médios das funções financeiras em Portugal (2024) Salários médios das funções financeiras em Portugal (2024)

Evolução do Mercado Laboral

O mercado de trabalho português apresenta uma tendência de estabilização, com a população empregada a crescer modestamente de 5,05 milhões em 2022 para 5,14 milhões estimados em 2025 [5][6]. Simultaneamente, a taxa de desemprego mantém uma trajetória descendente, situando-se em 6,3% para 2025, face aos 6,8% de 2022 [6]. Esta dinâmica cria um mercado favorável aos candidatos, permitindo negociações salariais mais vantajosas [5][7].


Evolução do emprego e desemprego em Portugal (2022-2025) Evolução do emprego e desemprego em Portugal (2022-2025)

Transformação dos Perfis Profissionais

As pequenas e médias empresas assistem a uma tendência de profissionalização dos departamentos financeiros, com captação de novos perfis para processos de digitalização e sustentabilidade [2]. A reestruturação organizacional intensifica-se com a automatização de processos e internalização de procedimentos [2]. Esta transformação reflete-se numa maior exigência por competências técnicas avançadas e soft skills específicas [2].

Key soft skills for a Controller role as identified in April 2024 Key soft skills for a Controller role as identified in April 2024 datarails

Procura e Oferta de Talento no Setor Financeiro

O desequilíbrio entre a procura e oferta de profissionais qualificados no setor financeiro português atingiu níveis críticos. Esta secção analisa as principais carências de competências, as áreas mais afetadas pela escassez de talento e o impacto direto nas dinâmicas salariais do mercado.

Escassez Crítica de Competências

Portugal enfrenta uma situação particularmente grave na escassez de talento qualificado, ocupando a terceira posição mundial com 84% de empresas a reportar dificuldades de recrutamento [1]. Esta realidade supera significativamente países como Alemanha (86%) e Israel (85%), colocando o país numa posição preocupante face à média global de 74% [1].

Ranking internacional de escassez de talento - Portugal vs outros países (2025) Ranking internacional de escassez de talento - Portugal vs outros países (2025)

Áreas de Maior Carência

As competências mais procuradas e difíceis de contratar concentram-se em Vendas e Marketing (23%), IT e Data (22%) e Recursos Humanos (21%) [1]. As funções de Engenharia e Operações e Logística seguem-se com 21% e 20% respectivamente [1]. No setor financeiro específico, observa-se uma carência acentuada de profissionais com especialização em IFRS17, gestão de risco e planeamento e controlo de gestão [2].

Dinâmica Salarial Competitiva

A escassez de talento reflete-se numa pressão salarial ascendente, particularmente em setores altamente qualificados [8]. O mercado regista aumentos generalizados dos pacotes salariais para todas as funções financeiras [2]. Os salários na banca podem oscilar entre 21.000€ e 90.000€ anuais, enquanto no setor dos centros de serviços partilhados, as remunerações mais elevadas podem atingir 154.000€ [4].

Impacto da Inteligência Artificial no Recrutamento e Funções Financeiras

A revolução tecnológica impulsionada pela inteligência artificial está a transformar radicalmente o panorama do mercado de trabalho financeiro português. Entre oportunidades de criação de emprego e riscos de automatização, esta transformação exige uma análise cuidadosa dos seus múltiplos impactos.

Transformação do Mercado Laboral

A inteligência artificial promete revolucionar o mercado de trabalho português nos próximos anos, com estudos da Randstad a indicar a criação de 400.700 novos postos de trabalho até 2030 [3]. Contudo, 481.000 empregos encontram-se em risco de automatização, resultando num saldo líquido negativo de 80.300 postos [3]. Aproximadamente 76,3% dos empregos não deverão sentir efeitos significativos diretos da IA [3].

Impacto da Inteligência Artificial no mercado de trabalho português até 2030

Impacto da Inteligência Artificial no mercado de trabalho português até 2030

Automatização de Processos Financeiros

O setor financeiro experiencia uma transformação acelerada através da automatização de tarefas repetitivas como processamento de faturas, reconciliação de contas e elaboração de relatórios [9][10]. Ferramentas de Robotic Process Automation (RPA) eliminam a necessidade de inserção manual de dados, processamento de faturas e relatórios de conformidade [10]. Esta automação liberta os profissionais para atividades mais estratégicas e analíticas [9].

Professionals analyzing financial data and charts on a tablet during a business meeting

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Novas Competências Exigidas

A integração da IA exige dos profissionais financeiros novas competências tecnológicas e analíticas [11][10]. Os CFOs modernos necessitam de expertise em IA para liderar a integração tecnológica nos processos financeiros [12]. As descrições de vagas para CFOs que mencionam IA aumentaram de 8% em 2024 para 27% em 2025, evidenciando esta crescente exigência [12].

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Perspectivas Futuras (2025-2030): Evolução dos Perfis e Departamentos

O horizonte 2025-2030 promete uma reconfiguração profunda dos departamentos financeiros e dos perfis profissionais exigidos pelo mercado. As competências híbridas e a integração tecnológica definirão o sucesso das organizações nesta nova era.

Transformação dos Perfis Profissionais

O Future of Jobs Report 2025 do World Economic Forum prevê que 40% das competências profissionais sofrerão transformações até 2030 [13][14]. No setor financeiro, antecipa-se uma crescente demanda por profissionais capazes de combinar competências técnicas com habilidades humanas como criatividade, resiliência e flexibilidade [13][14]. Os perfis mais procurados incluirão especialistas em análise preditiva, gestão de dados e integração de sistemas de IA [11].

Redefinição de Funções Executivas

Empresas como a Salesforce pioneirizam a criação de novos cargos executivos, como o Chief Operating and Financial Officer (COFO), que combina operações e finanças com expertise em IA [12]. Esta tendência reflete a convergência entre diferentes áreas funcionais sob a égide da transformação digital [12]. Os departamentos financeiros evoluirão para centros de inteligência empresarial, focados em análise preditiva e suporte à decisão estratégica [11].

Oportunidades e Riscos Emergentes

A transformação digital criará novas oportunidades em áreas como auditoria algorítmica, gestão de riscos de IA e compliance tecnológico [11]. Contudo, os riscos incluem a obsolescência de funções tradicionais e a necessidade urgente de requalificação profissional [3]. As empresas que não investirem em formação digital arriscam perder competitividade no mercado [10].

Desafios Enfrentados pelas Empresas

As organizações portuguesas deparam-se com obstáculos complexos no recrutamento de talento financeiro qualificado. Desde a escassez de competências especializadas até ao desalinhamento de expectativas, estes desafios exigem estratégias inovadoras de atração e retenção de talentos.

Escassez de Talentos Especializados

O principal desafio reside na escassez crítica de profissionais com competências específicas em análise de dados, gestão de riscos e finanças corporativas [15]. Esta carência torna a busca por candidatos qualificados um verdadeiro obstáculo para as organizações [15]. A competição feroz entre grandes instituições financeiras e startups disruptivas intensifica esta dificuldade [15].

Alinhamento de Expectativas

Existe frequentemente um desalinhamento entre as expectativas dos candidatos e a realidade das funções financeiras [15]. Os candidatos podem idealizar o trabalho no setor, esperando glamour e altos salários, enquanto a realidade envolve longas horas de trabalho e pressão constante [15]. Esta disparidade resulta em frustrações e rotatividade elevada [15].

Avaliação de Competências Comportamentais

Além das habilidades técnicas, as soft skills assumem importância crescente na avaliação de candidatos [15]. A comunicação, liderança, pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas tornam-se critérios decisivos [15]. A avaliação adequada destas competências representa um desafio adicional para os recrutadores [15].


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Ferramentas e Tecnologias de IA em Recrutamento e Gestão Financeira

A adoção de tecnologias de inteligência artificial está a revolucionar tanto os processos de recrutamento como as operações financeiras das empresas portuguesas. Estas inovações prometem maior eficiência, precisão e equidade nos processos organizacionais.

Soluções de Recrutamento Baseadas em IA

A implementação de ferramentas de IA generativa revolutiona os processos de recrutamento, como demonstra a Eurofirms com a análise de mais de 20 parâmetros para recomendação de candidatos [16]. Estas tecnologias garantem equidade e eliminam vieses relacionados com género, raça ou orientação sexual [16]. Sistemas como o Mega HR automatizam até 78% do processo de contratação [17].

Automação de Processos Financeiros

No setor financeiro, ferramentas como Parseur utilizam OCR e IA para extrair automaticamente dados de faturas e documentos [9]. Plataformas como Vic.ai automatizam fluxos de aprovação e deteção de inconsistências [9]. Estas soluções reduzem drasticamente o trabalho manual e os erros humanos [9].

Análise Preditiva e Relatórios Automatizados

A IA permite análise preditiva avançada para previsão de receitas e gestão de riscos [11][10]. Ferramentas de machine learning analisam padrões históricos para identificar tendências e oportunidades [10]. Os relatórios financeiros automatizados proporcionam insights em tempo real para suporte à decisão estratégica [11].

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Análise Comparativa Europeia

A posição de Portugal no contexto europeu de recrutamento financeiro revela particularidades importantes quando comparada com outros mercados do continente. Esta análise comparativa permite identificar boas práticas e estratégias diferenciadas adotadas pelos países vizinhos.

Posicionamento no Contexto Europeu

Portugal situa-se numa posição desfavorável no ranking europeu de escassez de talento, apenas superado pela Alemanha (86%) e Israel (85%) [1]. Esta realidade contrasta com países como França e Espanha, que apresentam desafios similares mas com menor intensidade [18]. A taxa de emprego portuguesa (72,4%) mantém-se ligeiramente acima da média europeia [19].

Dinâmicas do Mercado Laboral Europeu

O mercado europeu atravessa mudanças significativas impulsionadas pela escassez de competências e envelhecimento populacional [5]. Países como Espanha apostam na atração de talento estrangeiro, empregando mais de 700.000 imigrantes em idade ativa nos últimos três anos [5]. A mobilidade interna e colaboração entre empresas e instituições de ensino emergem como estratégias fundamentais [5].

Estratégias Comparativas de Adaptação

Enquanto Portugal enfrenta diminuição gradual das vagas de emprego desde 2022, outros países europeus implementam políticas proativas de atração de talento [7]. A Alemanha e França lideram em investimento em formação digital e requalificação profissional [18]. Espanha destaca-se por programas governamentais de apoio à transformação digital das PMEs [20].

Conclusões e Recomendações Estratégicas

A análise abrangente do mercado de recrutamento para funções financeiras em Portugal revela um panorama complexo, marcado por desafios significativos mas também por oportunidades estratégicas. As recomendações que se seguem visam orientar empresas e profissionais na navegação desta transformação.

Principais Desafios Identificados

O mercado português de recrutamento para funções financeiras caracteriza-se pela escassez crítica de talento qualificado, posicionando o país entre os três mais afetados mundialmente [1]. A transformação digital acelerada pela IA cria simultaneamente oportunidades e ameaças, exigindo adaptação urgente dos profissionais e organizações [3]. A competição intensa por talentos especializados intensifica a pressão salarial e complica os processos de recrutamento [15].

Recomendações para Empresas Portuguesas

As organizações devem investir prioritariamente em programas de requalificação e desenvolvimento de competências digitais [21]. A implementação gradual de ferramentas de IA nos processos financeiros permitirá manter competitividade sem eliminar postos de trabalho abruptamente [3]. Parcerias estratégicas com instituições de ensino facilitarão o pipeline de talentos qualificados [5].

Perspectivas Estratégicas de Longo Prazo

O setor financeiro português deve preparar-se para uma transformação profunda até 2030, onde as competências híbridas (técnicas e humanas) determinarão o sucesso profissional [13]. A criação de centros de excelência em fintech e IA posicionará Portugal como hub de inovação financeira na Europa [22]. O investimento em infraestruturas digitais e formação especializada constituirá factor crítico de diferenciação competitiva [23].

Sources